As Obras de Aleijadinho em Congonhas/MG

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Por Mariana Piana

O primeiro dia de viagem pelas cidades históricas de Minas Gerais começou muito bem! Fomos conhecer a cidade de Congonhas, há 80 km de Belo Horizonte. A parada na cidade foi para apreciar um único destino: O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.

Você lembra das aulas de história sobre Aleijadinho? Pois bem, é em Congonhas que estão as maiores obras de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738). Ele foi um dos mais importantes escultores, entalhadores e arquitetos do Brasil colonial, e depois desta viagem e de conhecer mais sobre seu trabalho e história de vida, minha admiração por ele aumentou.

Aleijadinho nasceu em Vila Rica (hoje, Ouro Preto), filho de um respeitado mestre de obras e arquiteto português, Manuel Francisco Lisboa e de uma das suas escravas, Isabel. Aprendeu desde criança com o pai vários ofícios como desenho, arquitetura, ornamentos, esculturas. Aprendeu também música, latim e religião com os religiosos da cidade. Quis seguir os passos do pai e se tornou escultor, trabalhando principalmente com pedra sabão em estilo Barroco e  Rococó. Aos 40 anos de idade Antônio foi vítima de uma enfermidade que o fez perder os movimentos dos membros superiores e inferiores, nascendo assim o apelido de Aleijadinho.

Após perder vários movimentos e ter seu rosto deformado em decorrência da doença, Aleijadinho não deixou de criar obras até hoje admiradas. Ele trabalhava durante a noite (para não assustar as pessoas com seu estado físico e porque preferia a solidão, neste momento da vida e da doença). Suas principais obras foram feitas após adoecer com instrumentos amarrados nos punhos e alguns poucos ajudantes. Trabalhou até o fim da vida com 76 anos, em 1812. Morreu pobre e doente na mesma cidade que nasceu e que hoje,  ironicamente, é símbolo do ciclo do ouro e do Barroco Mineiro – Ouro Preto.

Sobre o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos:

A maior obra do escultor Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, coloca a cidade de Congonhas – no roteiro turístico e histórico mineiro. A cidade reúne o maior conjunto da arte barroca do Mundo, com 78 esculturas barrocas (66 de madeira e 12 de pedra sabão) assinadas por Aleijadinho e construídas entre 1757 e 1790, que fazem do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos uma obra monumental de importância histórica nacional e mundial, sendo reconhecida como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 1985.

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Santuário de Bom Jesus do Matosinhos em Congonhas/MG

Quando chegamos ao Santuário, contratamos um dos guias que estavam na praça. Uma pessoa humilde, enigmática e batalhadora, o Geraldinho (telefone 31-99773.1826). Ele possui uma bagagem cultural enorme. Conhece tudo sobre a vida e história de aleijadinho e do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, e muitas das as informações aqui do post foram passadas por ele. Se você for pra lá, agende com ele! É baratinho e vale muito a pena. Foi uma das personalidades inesquecíveis da nossa viagem! OBS: este não é um post patrocinado.

Contratar um guia de turismo é sempre uma boa ideia. Contratamos o Geraldinho, mas há muitos guias locais em Minas Gerais que podem aprofundar na história desse estado tão importante pro Brasil. Veja os melhores guias locais de MG!

Começamos o tour conhecendo as Seis Capelas com Os Passos da Paixão de Cristo, ou Via Sacra (ceia, horto, prisão, flagelação, coroação de espinhos, cruz às costas e crucificação). Geraldinho nos explicou cada detalhes das 66 esculturas em cedro (todas pintadas pelo artista Manuel da Costa Athaíde), assim como, suas características (olhos orientais, cabelos encaracolados e queixo duplo), superstições do Mestre Aleijadinho e as mensagens geniais que ele deixava em suas obras.

Depois de estar completamente “embriagada” de tanta história fomos conhecer os Doze Profetas de Aleijadinho que ficam no adro da Igreja Bom Jesus de Matosinhos.  As esculturas foram criadas em apenas cinco anos. Ao longo desse período o Mestre Aleijadinho já sofria sérias limitações físicas por causa de uma doença degenerativa. A escultura do profeta Daniel é uma das mais importantes. A peça é monolítica, ou seja, feita em uma única pedra, sem emendas, e é a maior do conjunto.

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Santuário do Bom Jesus de Matosinhos e o Profeta Daniel

Uma das curiosidades das obras é que as iniciais dos 12 Profetas: Abdias, Baruc, Ezequiel, Isaías, Jonas, Jeremias, Amós, Daniel, Joel, Nahum, Habacuc, Oséias formam o nome: Aleijadinho. Ele usou o “i” de Isaías, também para homenagear sua mãe, Izabel. Mas faltou o “l” e para isso, o Mestre usou Baruc (Berk-yah) que quer dizer “L”ouvado.

Existem algumas leituras em torno dos Doze Profetas, uma delas é iconológica, ou seja, qual a intenção do artista ao fazer aquela obra. Neste caso, a pesquisadora Isolde Helena Brans Venturelli escreveu Profetas ou conjurados, estudo em que aproximou as esculturas dos profetas às dos inconfidentes mineiros, atribuindo a cada qual uma característica ou indício a nos levar para tal interpretação.

Jonas – Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes.

Jeremias – Francisco de Paula Freire Andrade.

Abdias – José Álvares Maciel.

Habacuc – Domingos Vidal Barbosa.

Naum – Francisco Antônio de Oliveira Lopes.

Ezequiel – Luis Vaz de Toledo Piza.

Baruc – Salvador Carvalho do Amaral Gurgel.

Daniel – Tomás de Antônio Gonzaga.

Oseias – Inácio José de Alvarenga.

Joel – Cláudio Manuel da Costa.

Isaías – o embuçado

Amós – Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

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Profeta Jonas
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Profeta Amós
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Profeta Ezequiel e ao fundo Oséias

Aleijadinho deixou para a humanidade muito mais do que símbolos ouesculturas. Depois de mais de 200 anos, hoje podemos enfim entender sua busca por liberdade, pela vida e pela arte. Ver de perto tudo que aleijadinho deixou para a humanidade é incrivel demais.


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